Fátima Bravo: “Estou numa fase em que tudo é possível.”

A montanha a contemplar a floresta. A vida animal em harmonia com a natureza. O melhor de dois mundos num lugar pleno de cor e descontração. O imaginário de Fátima Bravo leva-nos às suas origens, num reencontro constante com Trás-os-Montes. Descobrimo-lo também no poster com que a designer e ilustradora venceu a mais recente edição da nossa Open Call.

Licenciaste-te em Design de Comunicação e descobriste mais tarde a paixão pela ilustração. Como é que soubeste que, a partir dali, serias ilustradora?
A verdade é que não houve um momento exacto em que eu soubesse que queria ser ilustradora, foi um processo muito gradual. Houve vários factores que influenciaram as minhas escolhas e o meu percurso. Responsabilizo em grande parte a Faculdade de Belas Artes do Porto onde estudei, porque apesar de estudar design, tive muito contacto com os cursos de artes plásticas, cheguei a fazer algumas cadeiras mais artísticas como serigrafia e têxteis que alimentavam um pouco esta paixão. Tive também muitos professores ilustradores que admirava e inconscientemente, direcionava sempre os meus projetos para a ilustração. Mas penso que o momento mais decisivo foi quando recebi o meu primeiro freelance de ilustração para a Ogilvy Madrid que consistia em ilustrar alguns ingredientes da cerveja espanhola Cruz Campo. Quando este projeto surgiu, estava na dúvida se devia ou não seguir pelo caminho da ilustração e foi quase como um sinal do universo a dizer-me que sim, era possível!

O teu trabalho não deixa de ser bastante influenciado pelo Design. É um acaso ou uma tentativa de conciliar estes dois universos?
Creio que é inevitável que não o seja, quer queira quer não, ser designer vai sempre influenciar tudo o que faço. São também duas áreas que se conseguem aproximar e conciliar facilmente e que juntas são mais fortes. É sempre muito mais divertido quando posso usar a ilustração a favor dos projetos de design que faço. Ser designer ajuda-me muito na hora de decidir, tornou-me mais exigente e um pouco obsessiva com os detalhes.

Depois da experiência em Espanha, regressas a Vila Real. Como é que tem sido esta nova etapa do teu percurso?
É sempre bom regressar a casa, mas não quer dizer que fique cá por muito tempo, sou um pouco irrequieta. Precisava do sossego de Trás-os-Montes, do cheiro, da gente e dos meus gatos. Tenho alguns projetos aqui que gostava de ver crescer, gostava de me manter por Portugal. Mas também não descarto a hipótese de voltar a Espanha, estou numa fase em que tudo é possível!

Que tipo de trabalhos te tem dado mais gozo fazer e no que é que gostarias de te destacar?
Gosto de aliar a ilustração a projetos de design, seja web, packaging ou até branding, mas, por outro lado, também gosto de projetos menos institucionais e mais livres como a serigrafia e a cerâmica. Não sei bem que caminho seguir, o ideal seria encontrar uma harmonia entre tudo o que gosto de fazer.

A influência da natureza nota-se também neste teu poster. Que mensagem querias transmitir com dele?
A natureza e a vida animal é algo que gosto sempre de retratar, talvez devido às minhas origens, às minhas infância e adolescência. Sempre vivi rodeada de montanhas, árvores e animais. Viver longe disso tudo fez-me sentir uma certa nostalgia e creio que essa nostalgia é evidente em quase todas as ilustrações que fiz durante este período. Ao mesmo tempo acho que há algo de positivo e esperançoso subjacente.

Já tinhas exposto algo com esta dimensão?
Não, exponho geralmente em formatos mais pequenos também devido as limitações das técnicas de impressão que gosto de trabalhar, como serigrafia e risografia. Mas a sensação de ver algo tão grande tem outro impacto e gostei muito do resultado nas paredes de Marvila.

O que é que te motivou a participar?
Quando soube do Open Call estava a viver em Barcelona, tinha um projeto grande sobre mapas como trabalho final da pós-graduação. Estava um pouco cansada de ilustrar mapas porque mesmo quando se faz o que se gosta é preciso respirar, ir fazer outra coisa e voltar. Então decidi fazer uma pausa nos mapas e participar no Open Call. Fiz uma serie de três ilustrações e a que me parecesse melhor submeti a concurso. Fui uma das dez vencedoras e fiquei muito contente por isso!

Sentes que a tua participação te pode abrir outras portas no mundo da ilustração?
Quero acreditar que sim! Não é um mundo fácil, há pessoas muito boas e é um mercado agressivo, mas é possível, e acho que ser ativo e dar a conhecer o nosso trabalho é muito importante, e foi também por isso que decidi participar nesta edição do poster.

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